segunda-feira

enquanto as crianças fazem um barulho da porra.

Deixei de acreditar em céu, paraíso, nirvana, nosso lar, shammaym, qualquer coisa que remeta a existência humana pra um barato parecido com aquelas fotos de condomínios de luxo da Barra da Tijuca, com gente branca sorrindo, umas roupas maneiras, churrasqueira, piscina, academia, 2 vagas na garagem e próximo ao Recreio dos Bandeirantes.
O céu das Testemunhas de Jeová, graficamente tão bem feito nas suas publicações, é o que mais se aproxima disso. Caras, o céu tem que ser uma parada assaz atraente pro sujeito que pode ser converter porque, convenhamos, tem que rolar uma recompensa por anos de restrições que você vai ter que encarar por causa da religião.
O problema é que não tem céu. Não pode ter um único lugar pra convívio de religiosos que, na Terra, só faltam se matar de pau - aliás - alguns se matam. Eu, batista, convivo com umbandista de boa no paraíso, mas com crente homofóbico retété da Asssembléia nem fudendo.
E tem isso. Ninguém fode nos paraísos.  No cristão, não.
Então, o Diabo não venceu por completo, porque o céu é um lugar de regeneração da humanidade após o pecado no Éden. 
Quer dizer, não venceu, mas vai rir muito no inferno gritando: "Cês tão aí, mas não trepam mais." 
Um paraíso com prazeres cortados eternamente. 
Ah, a ilusão do paraíso.
Após alguns anos pensando nessas treta aí, mó tristão porque depois daqui nunca mais vai ter nada no rolé, sonhei um sonho.

Hoje à noite.

Eu tinha morrido. Sei lá como sabia disso, mas sabia. Não me via morto, mas certamente saí do quarto, e estava fora dele. Na verdade, eu não sabia onde eu estava, e isso não importava. Porque eu estava com uma sensação interessante. De que eu sabia de todas as respostas.

Véio, olhar pra dentro de si e simplesmente enxergar todas as respostas. Uma existência sem dúvidas, sem medos, você olhar pra dentro e não ver buracos, meus camarada: a sensação de paz é fuckin profunda.

Eu não precisava de mais nada. E por isso mesmo o lugar não importava. Porque, onde quer que eu estivesse, estar preenchido de sentido por dentro já era o suficiente.

Nunca senti tanta paz, ou lembro de ter sentido isso. Claro que minhas percepções são limitadas, me baseio somente no que vivi. Mas quando acordei, ou aos poucos "voltei" pra "cá", me bateu uma tristeza del carajo.

Putz. Como é triste voltar pra esse mundo de conflitos depois de experimentar essa parada que vou chamar de "paz profunda". Acordei triste. Trabalhei triste. O sol não encantava mais. Então, reforcei o pensamento de que estou à caminho do silêncio do mistério, como diz Leonardo Boff.

E, subitamente, perdi o medo de morrer. É, tinha isso. Nos últimos anos, as ilusões de paraíso me deixaram sem ter onde me apoiar. Me deparei com o medo de morrer. 

Sumiu.

Se "o lado de lá" é assim, tem essa sensação de paz profunda, caras: o bagulho é bom. 
Se foi só um sonho, e eu bem acredito que é por aí, essa ilusão parece ter dado conta das minhas angústias por agora. Meu inconsciente dizendo: "Mano, relaxa. E vive."

Chegamos sozinhos, iremos sozinhos. O maior paraíso está em você estar lúcido, sempre.

Porra, essas crianças tão jogando bola com garrafa pet, caras. 
Não dá pra elocubrar.

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